Práticas indiscriminadas de dietas de emagrecimento e o desenvolvimento de transtornos alimentares


A alimentação é uma necessidade humana vital, na qual a comida e o ato de se alimentar representam elementos de interação humana familiar e social, com conotações simbólicas.

O comportamento alimentar é um fenômeno complexo, que vai além do ato de comer. A ingestão de alimentos está relacionada a estímulos internos e externos, considerando fatores orgânicos, psicológicos e sociais. Desse modo, o ato de comer transcende o valor nutritivo e as características sensoriais do alimento, possuindo motivações ocultas relacionadas às carências psicológicas e às vivências emotivas e conflituosas que independem da fome.

Os transtornos alimentares são fenômenos pluridimensionais resultantes da interação de fatores pessoais, familiares e socioculturais, caracterizados pela preocupação intensa com alimento, peso e corpo. Os tipos de transtornos alimentares são: anorexia nervosa, bulimia nervosa e transtornos alimentares não especificados, que incluem o transtorno do comer compulsivo.

A prática de dietas representa um risco para o desenvolvimento de transtornos alimentares até 18 vezes maior, portanto essa conduta não deve ser estimulada indiscriminadamente.

A ênfase da sociedade contemporânea no ideal de magreza (culto ao corpo), as intensas propagandas na mídia de uma infinidade de regimes e de produtos dietéticos, bem como o crescimento de academias e do número de revistas sobre o assunto, fornecem o ambiente sociocultural que justifica a perda de peso, trazendo consigo uma simbologia de que a beleza física proporcionaria autocontrole, poder e “modernidade”. Entretanto, essa imagem corporal idealizada é um padrão impossível ou impróprio, incompatível para a grande maioria da população. Atualmente, observa-se o crescimento de dietas e de transtornos alimentares, o que representa, individualmente, insegurança e insatisfação quanto ao corpo e, no coletivo, uma mudança rumo a novas formas de consciência da mulher.

Mencionam-se as mulheres, pois é com elas que ocorrem cerca de 90% dos casos de anorexia nervosa, a quem o culto à beleza representa uma neurose moderna e coletiva que se espalha, em ritmo acelerado, de mulher para mulher.

Segundo Herscovici, “mais de 70% das mulheres com menos de 21 anos se sentem suficientemente gordas, a ponto de fazerem dieta, embora apenas 15% tenham realmente sobrepeso”. Apesar de a indústria da moda incentivar a magreza, não se pode considerá-la como responsável por síndromes que habitam nossa mente e se refletem nos corpos. Entretanto, é evidente que foi atribuído ao peso corporal um significado especial que tem levado as mulheres a uma obsessão pelo emagrecimento, e cerca de 90% delas fazem dieta em algum momento da vida.

Associada ao padrão do corpo magro, são veiculadas as mensagens de sucesso, controle, aceitação, conquistas de amor e estabilidade psicológica. Assim, a mulher acredita que, com a magreza, alcançará todas essas qualidades positivas, sendo a prática de dietas vendida como solução para todas as dificuldades. E, na ocorrência de insucesso na redução de peso, a mulher é vista como incapaz e sem autocontrole. Entretanto, o padrão imposto como ideal não respeita os diferentes biotipos e induz as mulheres a se sentirem gordas e desejarem o emagrecimento. Para isso, iniciam dietas e aderem a práticas inadequadas de controle de peso, tais como: fumo, vômitos auto-induzidos, laxativos e remédios para emagrecer. Portanto, a não aceitação do corpo leva muitas mulheres a caírem na armadilha das dietas, sendo essa alienação quanto aos seus corpos apoiada pela indústria do emagrecimento, que perpetua os mitos acerca das dietas.

Antes de começar qualquer dieta procure um nutricionista.

Herscovici CR. A Escravidão das dietas: um guia para reconhecer e enfrentar os transtornos alimentares. Porto Alegre: Artes Médicas; 1997.

Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 4. ed. São Paulo: Hucitec; 1996.

Robell S. A mulher escondida: a anorexia nervosa em nossa cultura. São Paulo: Summus; 1997.

Alvarenga MS. Anorexia nervosa e bulimia nervosa: aspectos nutricionais [dissertação]. São Paulo: Universidade de São Paulo; 1997.

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